A fisioterapia baseada em evidências é uma opção de tratamento eficaz para osteoartrite de joelho?

Publicado por Heric Lopes em

O artigo publicado recentemente na Osteoarthritis and Cartilage por Allen et al. (artigo e protocolo) – Physical therapy vs. internet-based exercise training for patients with knee osteoarthritis (OA): Results of a randomized controlled trial – é um daqueles artigos que me faz refletir sobre o que as pessoas pensam sobre a fisioterapia e os benefícios da prática baseada em evidências.

 

Primeiro é importante salientar que Fisioterapia é uma profissão e não uma intervenção. Comparar a profissão com uma forma de intervenção (exercícios), como descreve o título do artigo, é um exemplo do uso inapropriado de terminologias, pois leva à impressão de que a profissão é limitada às intervenções utilizadas no estudo para o tratamento da OA (artrose).

 

Além disso, esse artigo é uma evidência de que a prática da fisioterapia, utilizando terapias/intervenções baseadas em evidências, NÃO possui evidência de benefício quando comparada ao não-tratamento fisioterápico na OA (artrose) de joelho. #paradoxo

 

O estudo clínico randomizado controlado

 

350 participantes ⇢ 142 participantes no grupo de exercícios (112 completaram o estudo), 140 participantes no grupo da “fisioterapia” baseada em evidências (128 completaram o estudo) e 68 participantes no grupo controle (63 completaram o estudo na lista de espera);

 

INTERVENÇÕES FISIOTERÁPICAS baseadas em EVIDÊNCIAS:

 

✔ avaliação da força, flexibilidade, mobilidade, equilíbrio, função, alinhamento articular e possível diferença do comprimento do membro;

 

✔ avaliação da necessidade de braces, tape patelar, calço para o calcâneo e modificações de calçados;

 

✔ instruções para um programa de exercício apropriado (incluindo fortalecimento, alongamento / ADM e exercícios aeróbicos);

 

✔ instruções sobre o ritmo das atividades e proteção articular;

 

✔ terapia manual, se apropriada;

 

✔ modalidades para controle da dor, se apropriado;

 

👉🏽 Exercícios terapêuticos foram prescritos em 94% das visitas;

👉🏽 Treino de marcha e força em 44% das visitas;

👉🏽 Terapia manual foi utilizada em 43% das visitas;

👉🏽 Treino de equilíbrio / educação neuromuscular foram prescritos em 38% das visitas;

👉🏽 Modalidades para controle da dor em 29% e;

👉🏽 Alterações nos calçados em 20%.

 

🏥  94% dos participantes foram em pelo menos uma visita, 51% foram em 6-8 visitas. Média de 7 visitas / paciente (número máximo de visitas = 8 / duração das visitas = 1h);

 

Os resultados do grupo que recebeu “fisioterapia” baseada em evidências NÃO foram estatisticamente e clinicamente superiores quando comparados ao grupo que, independentemente, realizou exercícios via web e ao grupo controle (lista de espera) na melhora da DOR, RIGIDEZ e FUNÇÃO (WOMAC) após 4 meses e 12 meses da intervenção.

 

“… o resultado desse estudo sugere a necessidade de pesquisa adicional para desenvolver estratégias para maximizar a efetividade das intervenções da fisioterapia, incluindo a compreensão de qual tratamento é adequado e para qual paciente, além de otimizar a dose da intervenção no contexto da realidade da prática clinica.”

 

Será que a promoção de terapias/intervenções passivas, cujos princípios e mecanismos de ação não validados pelas ciências de base, ou seja, seus resultados (estatisticamente significantes) positivos em ensaios clínicos são justificados através de “efeitos não-específicos” ou mecanismos que descrevem o fenômeno PLACEBO, não estaria contribuindo para esse resultado no tratamento da OA (artrose) de joelho?

 

Como um gestor de plano de saúde ou saúde pública, a luz dessa recente evidência, preocupado com a relação custo x benefício (low value x high value healthcare), justificaria o financiamento da fisioterapia baseada em evidências no tratamento da OA de joelho?

 

Cuidado com a chamada superioridade ilusória!

 

“Não é da natureza humana imaginar que estamos errados.”

Kathryn Schulz

 

Heric Lopes

 

Referência Bibliográfica:

Allen, K. D., Arbeeva, L., Callahan, L. F., Golightly, Y. M., Goode, A. P., Heiderscheit, B. C., … & Schwartz, T. A. (2018). Physical therapy vs. internet-based exercise training for patients with knee osteoarthritis: Results of a randomized controlled trial. Osteoarthritis and cartilage.

 

Imagem:

Freepik – http://www.freepik.com/free-vector/woman-with-aching-knee_1892090.htm

 

#reflexao #fisioterapiabaseadaemCIENCIA


4 comentários

Dalva Santos · 28/05/2018 às 20:43

bem legal o texto, a fisioterapia ajudou muito na minha artrose de joelho. esse site tirou várias das minhas dúvidas nesse site, recomendo https://www.reumatocare.com.br/artrose.html

    Heric Lopes · 28/05/2018 às 22:06

    Oi Dalva, muito obrigado pelo comentário. Fico feliz que a fisioterapia a ajudou como sua artrose de joelho. Não conhecia o site que recomendou, vou olhar. Obrigado!

    Se você tem o interesse em saber mais sobre os tratamentos efetivos para artrose de joelho, pergunte ao seu fisioterapeuta sobre o GLA:D programa. Esse programa começou na Dinamarca e agora está sendo aplicado em vários países como Canadá (http://gladcanada.ca) e Australia (https://gladaustralia.com.au). Ele consiste, basicamente, em uma boa educação sobre o problema e um programa de exercícios especifico para o paciente. Os resultados são superiores ao que vem sendo feito por ai.

    Grande abraço.

Patricia · 11/02/2019 às 15:36

Muito bom seu artigo, parabéns pelas dicas!

    Heric Lopes · 11/02/2019 às 19:16

    Muito obrigado!

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